segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Ruído - Galeria São Bento. 19 Fev-14 Mar





A profusão de símbolos visuais e elementos industriais com os quais somos bombardeados no quotidiano urbano dá origem a um cenário de ruído comunicacional. Cada um desses signos e símbolos pretende passar uma mensagem, seja ela a venda de um produto, a reivindicação de um direito, a simples assinatura de um transeunte ou uma advertência de perigo. Entre todos estes produtos da civilização, avançamos e movemo-nos com maior ou menor facilidade. Se os artistas futuristas do início do século XX proclamavam a velocidade como forma de vida e arte, hoje em dia ela não precisa de incentivos. Os artistas associados ao Nouveau Realisme fizeram do mundo uma tela e criaram imagens a partir dos seus fragmentos industriais. Após as guerras, voltou a prosperidade económica e vender tornou-se fonte de um estilo de vida baseado em comprar. A publicidade desde então reina nas ruas e nas casas, tendo a Arte Pop aproveitado esta linguagem, vampirizando-a e transformando-se na crítica a este estilo de vida: a cultura de consumo. Hoje, a profusão exacerbada do graffiti torna-o por vezes invisível no espaço urbano e perde o carácter interventivo. Originariamente linguagem artística de rua, acaba por contaminar as galerias.

A panóplia de estímulos dá lugar à entropia comunicacional. Paradoxalmente, por mais gritantes que sejam os elementos visuais à nossa volta, quanto mais os vemos menos os apreendemos, pela embriaguez visual em que entramos. Assim, poder-se-ia dizer que igual seria se as paredes que nos rodeiam fossem todas brancas e as máquinas silenciosas. Mas tal não é verdade. O nosso silêncio não é feito da ausência de som e o branco tem todas as formas e cores lá dentro. Simplesmente deixamos de olhar e escutar. Mesmo que o mapa que se nos apresenta à frente seja um plano terrorista, apenas já só vemos linhas e ruas. Da confusão, o que fica? A arte contemporânea assume ainda a influência pop. No entanto, ela deixou de usar os ícones pop com o entusiasmo optimista que caracterizava muita da arte dos anos 60, mesmo quando ela estava no seu auge transgressor. Em vez disso, a arte hoje aborda o imaginário da sociedade urbana com azedume e frivolidade melancólica1.
Esta exposição é uma selecção feita a partir do acervo Artelection e não pretende efectuar ligações entre os artistas, de origens, percursos e opções estéticas heterogéneas, senão mesmo opostas em alguns casos. Em comum, a referência à actividade incessante, à produção industrial, à comunicação de massas, à sinalética de orientação ou à decomposição destes elementos pelo uso desenfreado ou pela mera passagem do tempo. No final, talvez fique uma confusão visual, talvez se retenha um elemento particular, ou talvez mesmo nada fique.






Curadoria Miguel Matos




Artistas: Albuquerque Mendes, Esther Pizarro, Ivan Messac, Leonel Moura, Mendes de Almeida, Peter Klasen, Raymond Hains, Rui Effe, Sara Franco, Telmo Alcobia.







A Galeria São Bento fica na Rua do Machadinho, 1, Lisboa






1. LUCIE-SMITH, Edward, Movements in Art Since 1945, Thames & Hudson, Londres, 2000, p.259