segunda-feira, 27 de abril de 2009

Sitexcape - A arte em versão ao domicílio


A arte em versão ao domicílio (tipo, vamos a casa)

Precisa de estímulo artístico? Miguel Matos receita-lhe várias doses de um remédio criativo chamado Sitexcape

A arte pode assumir as formas mais diversas e pode suscitar os encontros mais inesperados. É de encontros que vive um projecto recente chamado Sitexcape.com. Como dá para ver pelo “.com” é um site, pois claro. Mas aqui reside uma plataforma de troca de experiências e conhecimentos, pessoais, teóricos, práticos e quase sempre artísticos. “A ideia do sitexcape é ser um ponto de encontro de ideias e experiências de criação”, explica Natércia Caneira, artista e criadora deste site que envolve outros autores como Orlando Franco, Susana Anágua e Bábara Assis Pacheco, entre outros. “Queremos promover situações criativas. Não no sentido de uma galeria, uma revista ou um simples website. Queremos criar situações paralelas ao que normalmente é entendido como arte”.

No Sitexcape, workshops, precursos culturais, tertulias e residencias artisticas são elaborados com uma forte componente experimental. O projecto mais interesante será as reuniões de amigos em casa de coleccionadores de arte, com a intervenção dos artistas deste colectivo. Em Portugal temos escondidos em suas casas coleccionadores privados com obras muito importantes que só são mostradas aos seus amigos em jantares privados. São pessoas endinheiradas que estão fartas de sair e fazem festas em casa. O sitexcape aparece nestas festas e dinamiza a noite com as peças de arte e as palavras trocadas em casa. “As pessoas compram obras de arte mas por vezes não sabem muito bem porque gostam daquilo e não possuem bagagem para entender e fazer ligações. Compram por gosto. O que nós fazemos é ir lá a casa e esclarecer as coisas. Às tantas cria-se uma dinâmica em que de repente estamos a falar de política, de história... Avança-se para uma série de conversas que partem da arte para outros temas e em que todas as pessoas participam. Costumo levar outro artista comigo e trabalho também com pessoas da área de teatro, de história de arte... tudo depende da colecção que as pessoas têm em casa. Nao há limites de tempo para a conversa. Dura o tempo que tiver de durar”, diz Natércia. É o verdadeiro espírito de tertúlia, quando se pensava que esta se arriscava à extinção.

Mas como funcionam estas tertúlias animadas pelo Sitexcape? O coleccionador contacta o colectivo através do site e Natércia faz-lhe uma visita. Normalmente estes serões são só para amigos, à porta fechada pois os coleccionadores são como todos nós e não gostam de trazer estranhos para casa e muito menos de revelar tesouros publicamente. É uma coisa mais intimista e que passa de boca em boca. O resultado são experiências únicas. “conhecemos pessoas fantásticas com experiências interessantes e diferentes. Fascina-me este meandro de pessoas que são invisíveis à maior parte da sociedade”, revela Natércia. Mas o sitexcape tem outras valências e não se fica por aqui. Existem também as residências artísticas em que se junta um grupo de pessoas durante três dias fora da cidade, num espaço rural, fora do contexto em que normalmente os artistas trabalham. Partilham-se assim ideias e projectos. A questão que está por base é a mesma que, segundo Natércia Caneira, dá origem ao nome Sitexcape: “quando estas desenquadrado és mais criativo e descobres coisa novas. É a ideia do artista em viagem, típica do século XIX que faz cada vez mais sentido”. Para os mais afoitos da aprendizagem há workshops em parceria com instituições como os de desenho que neste momento decorrem no Museu de Ciência e no Museu de História Natural. São aulas práticas para pessoas que já sabem alguma coisa mas que querem um acompanhamento ao seu trabalho.

As dicas estão lançadas para coleccionadores que querem animar uma noite com amigos e para artistas em busca de inspiração. Agora é explorar o Sitexcape e descobrir outras ferramentas para crescer na arte.

Time Out, Março 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário