segunda-feira, 11 de maio de 2009

João Figueiredo - Back to the Palace



Ingres e Pessoa: juntos e recombinados


João Figueiredo ajuda o IADE a apagar 40 velas com uma exposição de pintura. Miguel Matos foi ver a festa.


O que têm em comum o pintor Jean Auguste Dominique Ingres e o poeta Fernando Pessoa? Aparentemente nada. Mas João Figueiredo juntou-os numa exposição de pintura no IADE, por ocasião das comemorações dos 40 anos desta escola.

João Figueiredo tem já um longo historial de obras criadas tendo como base a mistura de elementos e a subversão de ícones, trabalhando com colagens e recortes, pintando sobre obras de outros autores. Mas porquê juntar estes dois nomes? “Ingres aparece porque é o meu pintor preferido. Sei que não há uma relação directa entre ele e Fernando Pessoa mas foi uma forma de juntar a pintura à literatura”, diz. Tudo começou quando o artista ganhou um prémio enquanto estudante de Design de Comunicação no IADE.

Esse prémio consistia numa colecção de obras de Fernando Pessoa, revistas e anotadas por António Quadros. “Esta é uma homenagem a ele, fundador do IADE e grande estudioso da obra de Fernando Pessoa. Inspirei-me neste homem para interpretar Ingres, aproveitando para discorrer sobre o universo feminino e juntando isso às dúvidas existencialistas de Pessoa”, explica João Figueiredo.

Em “Back to the Palace”, Fernando Pessoa está presente não tanto nas imagens mas mais nos segredos que estas mesmas imagens guardam. Pessoa serve como pretexto para contar uma outra história para além da que Ingres contou. Na verdade, a exposição tem detalhes pessoais do autor pois é exposta na sala onde há anos João Figueiredo recebeu o referido prémio.

Para além dos cortes, recortes, amputações e acrescentos em copy/paste criativo, há um aspecto que se repete: muitas das figuras encontram-se encerradas em caixas que parecem aquelas que os mágicos usam para cortar pessoas ao meio. Isto tem uma razão, como explica o pintor: “antes de chamar esta exposição ‘Back to the Palace’, estive para lhe dar o nome de ‘A Impossibilidade do Espaço’. Tem a ver com a impossibilidade da mente, da nossa múltipla personalidade e daí a referência a Fernando Pessoa e aos seus heterónimos. São, no fundo, caixas e espaços que interagem mas que sugerem formas improváveis. Há imagens que estão de tal maneira desmembradas que parecem impossíveis.” É todo um intrincado de espaços e pessoas em planos que não parecem pertencer à realidade. Até o célebre quadro O Banho Turco, de Ingres, nunca mais foi o mesmo após o remix de João Figueiredo.

“Back to the Palace” está patente no IADE – Palácio Pombal (Rua do Alecrim, 70) de 5 a 29 de Maio. Aberto de segunda a sexta das 10.00 às 18.30 e sábados das 12.00 às 17.00. A entrada é gratuita.

Time Out, 28 de Abril de 2009

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