quinta-feira, 7 de maio de 2009

Rui Calçada Bastos - Cabin Fever




Farto de voar em classe turística?


Miguel Matos acompanhou Rui Calçada Bastos numa viagem de avião e ficou com “Cabin Fever”.

Senhores passageiros da RCB Airlines, apertem os cintos e apaguem os cigarros... “Cabin Fever” é o termo usado para referir uma reacção claustrofóbica que acontece quando alguém está isolado ou fechado durante um largo período. Dá origem a sintomas como irritabilidade, falhas de memória, inquietação ou sono excessivo.
O avião, numa viagem de longa distância, é o local privilegiado para sentir este tipo de distúrbio. “Quando estás há muito tempo num avião perdes a noção do espaço, de onde estás...”, diz Rui Calçada Bastos, que decidiu transpôr esta desorientação para a exposição que apresenta esta semana na galeria Appleton Square.

A instalação “Cabin Fever” combina uma selecção de oito fotografias de grande formato com uma intervenção estrutural, em que o artista construiu um labirinto através do qual os visitantes têm de se deslocar para conseguirem ver as imagens de perto. A exposição em causa não será uma qualquer mostra de fotografias penduradas numa parede. “Cabin Fever” é, acima de tudo, uma instalação fotográfica colocada por entre uma estrutura de pilares brancos que criam corredores cruzados e provoca uma sensação de desorientação.


Este dispositivo funciona da mesma forma que a estrutura dos blocos verticais do Museu Judaico em Berlim. Ao contrário da forma como habitualmente os visitantes se deslocam através de um espaço expositivo, “Cabin Fever” explora a desestabilização das nossas perspectivas ao obrigar à sensação de uma mudança constante dos nossos eixos de navegação.


Rui deverá conhecer muito bem esta sensação pois a sua vida tem sido feita de viagens para cá e para lá. Aos 16 anos foi para Macau, onde viveu durante uma década. Depois veio estudar para Portugal. Está há sete anos em Berlim, inicialmente para uma residência da Gulbenkian na Künstlerhaus Bethanien, onde muitos artistas portugueses se fixaram temporariamente, como Noé Sendas e Adriana Molder. Hoje é responsável pela galeria Invaliden 1, em conjunto com outros artistas. Recentemente voltou a voar muitas horas para realizar um projecto fotográfico e de vídeo em Xangai.



A ideia da viagem atravessa a vida e o trabalho deste artista desde sempre, assim como as ideias relacionadas com os bloqueios à comunicação. Na verdade, quando viajamos num avião estamos todos num espaço confinado e evitamos toda e qualquer tentativa de comunicação com a pessoa que está apenas a 10 cm de nós (ou ao nosso colo, se for num avião de uma companhia low cost). O espaço entre a janela e o banco da frente é aquela nesga discreta por onde podemos vislumbrar alguns pormenores que possam identificar a pessoa que está à nossa frente. E numa viagem longa, por vezes esta pequena quantidade de informação pode tornar-se subitamente interessante. É numa perspectiva que está entre o voyeurismo e a fuga à interacção que “Cabin Fever” se desenvolve. Como explica Rui Calçada Bastos: “Percebe-se mais de uma pessoa quando se vê esta de costas do que de frente. Já Magritte explorava isso. Estar de costas é o lado que não conheces de ti e que os outros vêm e que acrescentam ao teu eu. Tu de costas és tu. De frente podes ser ou não ser.”

“Cabin Fever” está patente na Galeria Appleton Square (Rua Acácio Paiva, 27 r/c) de 24 de Abril a 23 de Maio. Aberta de terça a sexta das 14.00 às 19.00. A entrada é gratuita.


Time Out
, terça-feira, 21 de Abril de 2009

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