Nádia Duvall (Alicante, 1985) é luso-argelina e, tal como a origem geográfica da artista é uma mescla, também a arte que produz é uma fusão de diferentes disciplinas. Influenciada pelo gestualismo, os happenings, a body art e as máscaras africanas, Nádia cruza a arte e a ciência, no resgate da memória e na busca da sua própria identidade. A artista é reconhecida pela sua abordagem única, o que lhe valeu uma bolsa do programa Ciência Viva e da Direcção-Geral das Artes para desenvolver o projecto “SKIN”. Fui ao seu atelier conhecer a técnica insólita que desenvolve com o seu próprio corpo dentro de uma piscina a que chama de útero e onde nascem peles de tinta como se fossem placentas.
No domínio da arte portuguesa tu és uma artista diferente de todos pela técnica que desenvolves. Começaste por explorar a aplicação de membranas de tinta sobre telas brancas, como chegaste a mostrar numa exposição na Rock Gallery, mas neste momento estás longe desse processo...
Eu trabalho a ideia de pele. E esta pele nasce naquele útero (aponta para a piscina que ocupa parte do seu atelier). Eu entro lá para dentro, ela habita-me e sendo assim mais valia ser eu mesma a ser exposta. As pessoas que observam o meu trabalho numa tela vêm uma mancha. E o que eu quero que elas vejam é uma pele. A tela dá-lhe um esqueleto bidimensional que não me interessa mais explorar. O projecto “SKIN”, apoiado pela Direcção-Geral das Artes e pelo programa Ciência Viva é um estudo da parte química destas membranas, realizado em parte no ITQB (Instituto de Tecnologia Química e Biológica).
No domínio da arte portuguesa tu és uma artista diferente de todos pela técnica que desenvolves. Começaste por explorar a aplicação de membranas de tinta sobre telas brancas, como chegaste a mostrar numa exposição na Rock Gallery, mas neste momento estás longe desse processo...
Eu trabalho a ideia de pele. E esta pele nasce naquele útero (aponta para a piscina que ocupa parte do seu atelier). Eu entro lá para dentro, ela habita-me e sendo assim mais valia ser eu mesma a ser exposta. As pessoas que observam o meu trabalho numa tela vêm uma mancha. E o que eu quero que elas vejam é uma pele. A tela dá-lhe um esqueleto bidimensional que não me interessa mais explorar. O projecto “SKIN”, apoiado pela Direcção-Geral das Artes e pelo programa Ciência Viva é um estudo da parte química destas membranas, realizado em parte no ITQB (Instituto de Tecnologia Química e Biológica).
Voltando atrás, como é que começaste a trabalhar com estas peles?
Eu fazia muitas experiências quando ainda estudava na ESAD, nas Caldas da Rainha. Andava à procura de qualquer coisa e sempre tive um lado de cientista. Não sabia exactamente o que é que procurava, mas desde sempre que trabalhei muito as questões da identidade. Mesmo em pequena, os meus desenhos eram sobre mim. Há uns tempos, num dia de Verão, eu tinha feito uma experiência dentro de frasquinhos. Ao final do dia eu tinha mais de 50 frascos com tintas diferentes dentro de um balde. Não me apeteceu lavá-los e então cobri-os com água. No dia seguinte, quando reparei, havia uma membrana à superfície. Então quis saber o que se tinha passado ali e foram precisas umas 200 experiências até chegar lá. Apliquei as membranas em telas porque nunca me occoreu que aquele material pudesse sair desse suporte. Quando passei a fazer telas grandes, comecei a manipular as peles de tinta com objectos e apercebi-me que utilizando a água conseguia pôr as mãos por baixo delas.
Hoje trabalhas em performance dentro de água interagindo com o teu corpo na tinta...
Foi uma coisa natural. Como aquelas peles se adaptavam à minha própria pele era como se eu fosse uma espécie de camaleão. Abandonei então as telas, depois de aprofundar o meu conhecimento da forma e da cor. Mas não teria chegado onde estou se não tivesse percorrido esse caminho.
Essas membranas que parecem pele, são compostas de quê?
São só tinta. Tento fazer com que seja uma matéria o mais pura possível, feita a partir de pigmento em pó e um outro componente que eu quero retirar e é para isso que estou a investigar. Não descanso até conseguir descobrir a forma perfeita de fazê-las. Porque este material é muito frágil e eu quero fazer com que elas sejam duráveis e transportáveis.
O que te levou à candidatura para uma bolsa de carácter científico? Podes explicar as suas premissas iniciais e os resultados?
Fui trabalhar no laboratório de polímeros, colóides e surfactantes do ITQB em Oeiras. Qualquer tinta no mercado é feita à base de polímeros e a ideia era descobrir a composição química das misturas de tintas que eu tinha feito. É claro que nenhum fabricante de tintas revela a totalidade da composição das suas tintas. Por isso, foram nove meses a investigar e não conseguimos terminar. Foi complicado pois cheguei até a sujar um corredor inteiro do ITQB com pegadas minhas azuis. Por isso, como eu não sou uma cientista, achámos melhor montar um laboratório no meu atelier. Mas há muitos entraves técnicos e não basta fabricar uma tinta qualquer, porque eu trabalho dentro de água. Tem de ser uma tinta que não se dissolva nem se decomponha na água. Tem de formar uma membrana durável no tempo, elástica mas ao mesmo tempo rígida. Tem de ser adaptável ao meu corpo, mas que se consiga arrancar. E tem que ser feita a partir de pigmento. Com a tecnologia que existe hoje, é provável que não consiga tudo isto, mas vou tentar. Por isso vou voltar a pedir apoios para retomar a investigação.
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