terça-feira, 28 de julho de 2009

Música com sabor a Sugu


Miguel Matos não consegue resistir a um pé de dança ao som da artista Susana Guardado a.k.a. DJ Sugu

A pista de dança: lugar de música. Lugar de escape. Lugar de engate. Morada de corpos e copos no exorcismo dos nossos males. O melhor e o pior aqui se passa. É lá que nos exprimimos, é aí que nos sacudimos até horas indecentes. É por aqui que passa também a arte de Susana Guardado, numa tentativa de registar e documentar vivências nocturnas – suas e nossas – ao mesmo tempo que nos dá música como alter-ego de nome DJ Sugu.

“O meu atelier é a rua. São as festas, a minha relação com os outros”. Na sua última exposição individual, na galeria 3+1, Susana Guardado apresentou um painel que representa a sua experiência pessoal na música e na arte. “Era uma composição fotográfica com registos de chão, de sítios onde já dancei, onde pus música ou onde gostaria de dançar.” As peças artísticas de Susana Guardado relacionam-se com a música, as suas histórias e as experiências que nos proporciona. Mas a música e a arte eram entidades separadas até que no Verão passado a artista esteve em residência com outros autores na Gulbenkian. “Não fiz nada daquilo que tinha planeado e acabei por passar música todos os dias no decorrer dos trabalhos. Fui impulsionada a explorar os dois aspectos: as artes visuais e a música.”

Susana começou a passar música no Europa (Cais do Sodré), local onde se sente mais à vontade. Mais tarde, numa festa de anos de uma amiga, Susana juntou-se ao performer Miguel Bonneville e fizeram pela primeira vez um DJ set em conjunto. A partir de então e desde Setembro que, no Europa, o primeiro sábado de cada mês é deles. As festas Black Sugu são uma reunião mensal de catarse pela música num ambiente de comunhão já raro de se ver em Lisboa. Um transe de boa disposição com uma dose de loucura e decadência. Os DJs dão os hits ao público e este replica em esfuziante dança. “O que caracteriza as nossas festas é o facto de não haver nada que as caracterize. São festas de espírito aberto. A tónica são os sucessos musicais, aquilo que faz com que as pessoas mexam. O que nos interessa é esta união entre as pessoas e elas saberem que podem ser aquilo que quiserem. Buscar os hits tem a ver com esse acto de reconhecimento, de memória que faz com que as pessoas se sintam mais libertas.” Nestas festas concentra-se boa parte da comunidade artística e alternativa da cidade. Parece uma Lisboa em Nova Iorque.

Agora a arte e a música de Susana andam de mãos dadas. “Há muito tempo que quero cruzar estes universos pois a música é universal e marca a nossa vida. Venho a amadurecer este processo desde a minha primeira exposição, na extinta galeria Artfit onde apresentei uma colecção de objectos em vinil ao mesmo tempo que passava as músicas cujos títulos estavam inscritos nas placas”. Susana inicia agora o projecto “Personal DJ”, em que se oferece para ir a casa das pessoas passar música. Obedece a horas e a algumas regras e depois há um registo de imagens e sons que documentam estas experiências.

O texto de apresentação da sua obra resume bem quem é Susana Guardado, “de topógrafa a etnógrafa, a artista revela-se psicanalista dos seus próprios traumas, usando a visualidade como catarse para purgar o sentimento de culpa que a assola: culpa de viver mais intensamente a noite que o dia, de sentir mais do que ponderar, de sucumbir facilmente ao prazer... mesmo sabendo que isso é parte integrante e intransponível do seu ego”.

Time Out, 29 Abril 2008

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