domingo, 19 de abril de 2009

António Palolo - We all Live in a Yellow Submarine...


António Palolo

We all live in a yellow submarine...

por Miguel Matos


Será esta imagem um frame do psicadélico filme “Yellow Submarine”? Parece que é mas não é. Finalmente acontece uma exposição antológica do pintor António Palolo no Centro de Arte Manuel de Brito, a primeira em doze anos de silêncio, que reúne obras desde os inícios dos anos 60 até 84.


António Palolo é um artista de quem pouco se fala, quase nada se escreve e raramente se expõe. Em portugal há um vazio de crítica e de história de arte que permite estes exemplos de grandes artistas acerca dos quais pouco ou nada se diz. António Palolo morreu cedo em 2000, com 54 anos e deixou atrás de si uma obra desigual que reflecte o seu carácter insaciável. Artista autoditacta nascido em Évora, pulou a vida toda de fase em fase. A necessidade de experimentar será talvez a característica mais marcante do seu trabalho, que acompanhou diferentes movimentos artísticos, passando do informalismo para a transvanguarda, pela arte-pop, pelo abstraccionismo geométrico até à arte conceptual. Num jogo contínuo que estabelece com o olhar, Palolo propõe um sistema integrado de formas orgânicas com estruturas geométricas. Sem nunca abandonar o seu reconhecido apelo ao sensorial do Homem, ele pretendeu conhecer a arte tanto quanto pretendeu conhecer-se como artista.


Palolo foi o destemido artista heterogéneo, pintor, autor de videos, de instalações e diaporamas. A sua insegurança (talvez pela falta de uma formação oficial), levou-o a querer abraçar sempre a corrente artística dominante.“Palolo não havia frequentado as Belas-Artes, e a sua formação autodidacta foi norteada por um forte instinto plástico, por uma necessidade interior que parecia conciliar, não sabe bem, não se sabe como, a fisionomia de uma paisagem alentejana, com a versatilidade de uma paisagem interior. Num primeiro momento foi no real que procurou marcas e signos para depois os transfigurar em surreais alegorias. Estas começaram por revelar uma sensibilidade pop. Mas seguiram depois os imprevisíveis caminhos dos ventos que sopravam nas searas e tudo agitavam à sua passagem, polindo as aparências”, diz Eduardo Paz Barroso, no único livro dedicado ao artista, editado pela Caminho e entretanto praticamente esgotado. Segundo Helena de Freitas diz numa ficha informativa do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, “O desenvolvimento desta vertente geométrica na passagem para os anos 70 conduziu-o a um abstraccionismo de sinalização pop ou psicadélico, através da cuidada articulação de bandas coloridas, num progressivo fascínio pelas possibilidades construtivas da simetria e do ritmo”.


Durante o seu caminho, António Palolo rompe com o que quer que seja, assim como nunca apresentou medos absolutos de abandonar as suas anteriores formas de expressão e redesenhar outras. Martirizava-se na incessante busca do género, técnica e momento para responder às suas questões. Após o 25 de Abril, abandonou bruscamente a figuração de raiz pop, entregando-se a delírios mais característicos do pós-modernismo, tendo participado na mítica exposição “Alternativa Zero”. Na década de 80, quando muitos dos seu colegas apelavam e afirmavam pelas artes visuais que a pintura tinha dias contados, Palolo finca-se na premissa do "não abandono" e das novas linguagens na permanência e autonomia da pintura. Entretanto, neste momento de indefinição nas artes visuais e em que não se pode traçar uma tendência principal, não deixamos de pensar: Como seriam hoje as obras de Palolo se ainda estivesse entre nós?

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