terça-feira, 14 de abril de 2009

Susana Anágua


Susana Anágua
por Miguel Matos

“No futuro vejo a necessidade de devolver à arte os momentos de contemplação”, defende Susana Anágua (Torres Vedras, 1976). “Gosto da envolvência contemplativa entre o observador, o objecto e o artista, mas sempre com uma vertente conceptual. Sempre gostei muito dos conceitos que envolvam a ideia de ciclo, de rotação, encantamento e de paisagem. Como um catalisador de uma experiência individual, um encantamento, uma hipnose que nos vira para dentro e nos devolve a nós mesmos”.

Susana Anágua já expôs quase todo o tipo de trabalhos menos pintura. No entanto, o seu sonho inicial era ser pintora. “Desde miúda que pintava frutas e nús”, diz ela. Ou isso ou então gostava de ser cientista. Pegava em flores e metia dentro de água e depois fazia pastas, destilava a água e punha dentro de tubinhos. Escolhia as flores através das suas tonalidades e punha cascas de laranja na água para obter a cor. “Era uma cientista um bocado fraquinha porque o meu interesse era sempre a busca de paletas de cores. No fundo, eu queria ser artista e cientista só pelo romantismo da coisa”. Estudou Escultura no Ar.Co e a sua primeira peça foi logo como hoje ainda são todas: enormes e pesadas. Ou não tivesse ela instalado este ano no claustro do Mosteiro de Alcobaça um conjunto de torres de alta tensão em ferro ligadas por mangueiras cheias de água.

A inquietação de Susana não a deixou ficar muito tempo no Ar.Co e foi na Escola Superior de Tecnologia, Gestão, Arte e Design das Caldas da Rainha que acabou a licenciatura em Artes Plásticas. Começou a expor colectivamente com os colegas de curso do Ar.Co a partir de 1997. No final da licenciatura foi realizada uma exposição de trabalhos finais. Graças a isso, chegou à Gulbenkian um CD com imagens do seu trabalho que imediatamente lhe deu direito a ser convidada para participar na exposição “7 Artistas ao 10º Mês”. Ao mesmo tempo decorreria o Prémio Anteciparte ao qual Susana concorreu, tendo sido seleccionada como finalista. Ao estar ao mesmo tempo em duas importantes e prestigiadas exposições de artistas emergentes, deu-se o arranque da sua carreira. A partir daí, a Galeria Presença quis representá-la e ganhou o apoio de um coleccionador privado. Tem obras suas nas colecções da Fundação PLMJ e no Museu de Arte Contemporânea de Elvas. Expôs individualmente no Espaço de Cultura Material Contemporânea e Arte em Castelo Branco e apresentou “Natureza Mecânica, Episódio 2: A Desorientação” na Galeria Presença. No ano passado realizou um Project Room na Arte Lisboa pela Galeria Sete, de Coimbra, mas 2008 é que foi o seu ano mais importante. A convite da Fundação Calouste Gulbenkian, expôs o projecto individual “Desnorte” no Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão. Ao mesmo tempo, entre os consagrados João Tabarra, Joana Vasconcelos, Fernanda Fragateiro, Ângela Ferreira, Miguel Palma e Pedro Cabrita Reis, Susana Anágua era a única artista emergente convidada a realizar uma intervenção no Mosteiro da Batalha para o evento “Sete Maravilhas de Portugal”, patrocinado pela EDP. “Este convite deveu-se ao facto de a exposição na Galeria Presença ter sido sobre energias e com moinhos. O meu trabalho adequava-se assim ao tema das sete maravilhas que era as energias”.

Susana Anágua encontra-se agora em Londres a fazer um mestrado teórico em Arte Digital na University of the Arts, como forma de melhor pensar e consolidar os seus conceitos. “Estou a centrar o meu mestrado na questão da entropia e da recuperação da ordem através do caos. É uma pesquisa entre a termodinâmica e a física que entendem a entropia como uma dispersão de energia”. Este ano, no Espaço Avenida, Susana apresentou um vídeo que documentava o processo de destruição de um pneu para extrair materiais específicos que seriam reaproveitados em outros produtos. A reciclagem como forma de contrariar a entropia. É um ciclo de destruir para gerar vida de novo.

Em Setembro está planeado o regresso de Anágua a terras alfacinhas. Poderemos ver o resultado das suas investigações numa exposição colectiva na Plataforma Revólver, cujo tema é “Artistas em Trânsito”. Até lá, as suas obras estão no acervo da Galeria Paulo Amaro e no site www.anagua.org.

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